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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Caminharemos de Olhos Deslumbrados

                                                                                                
Caminharemos de olhos deslumbrados                                                                                          
E braços estendidos                                                                                                                                 
E nos lábios incertos levaremos                                                                                                             
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.                                                                                                                                                                                                
                                                                                                                                                      
Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.                                                                                      


No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.


Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!


Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.


Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.


Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.


Ary dos Santos



 
Fonte: Imagem Web, ( O citador)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Poesia Popular

Quem disse que Portugal não é um país de poetas, escritores e trovadores? Mas somos... não só da época de ilustres escritores,como Camões, Fernando Pessoa e Bocage. No nosso dia a dia deparamo-nos com pessoas muito românticas, e com grande capacidade de fazer prosa.
Posso vos perguntar se ao passarem na rua nunca ouviram frases como" Ó flor dá para pôr?" ou então  " Ó musa dás-me tusa?" ou ainda " Ó bomboca, mostra a toca.", pois é... quase todos nós já ouvimos. Mas claro não podemos comparar Fernando Pessoa, Camões e Bocage com estes trovadores. O que eu quero dizer é que esta poesia popular ou a poesia de andaime faz parte da nossa cultura.
Esta veia poética tem várias vertentes desde a mais romântica ao  verso, até à utilização de metáforas e sem falar na pornográfica.



                                                                                                                                        Imagem (blog "Tovi")

Ficam aqui mais alguns exemplos:

  • Oh linda tens uns lábios, que faziam feliz qualquer chupa chupa.
  • Contigo filha era até ao osso.
  • Ó boneca, se fosses de porcelana partia-te toda...
  • Foste à tropa dama? É que já marchavas...
  • Para mim era a estrear.
  • A tua mãe só pode ser uma ostra para cuspir uma pérola como tu.
  • Ainda dizem que as flores não andam.
  • O teu pai devia ter a régua torta para te ter feito com curvas assim.
  • Usas cuecas TMN? É que tens um rabinho que é um mimo.
  • Ó filha fazia-te um pijaminha de cuspo.
  • Ó filha anda cá a cima que até a barraca abana.
  • Estou a lutar desesperadamente contra o impulso de fazer de ti a mulher mais bela do mundo.
  • Sabes onde ficava bem a tua roupa? Toda amarrotada no chão do meu quarto.
  • Só a mim é que não me calha uma destas na rifa.
  • Tu és como um helicóptero: Gira, gira, gira e boa.
  • Diz-me lá como te chamas para te pedir ao menino Jesus.
  • Se eu tivesse no teu lugar tinha sexo comigo na boa.
  • Queria ser um patinho de borracha para passar o dia na tua banheira.
  • Não és nada de deitar fora, já tive pior e a pagar.

Vejamos esta frase.
" Ia até ao fim do mundo por um dos teus sorrisos..."
Até aqui é uma frase muito bonita, mas depois quando a completa...
"e ainda mais longe pela outra coisa que podes fazer com a boca."
Sem palavras...


Sinal Perigo

Piropos












Também existe piropos na outra versão...

  • Ohhh "filho" tens um rabinho que até dá vontade de dar uma palmadinha...
  • Lindinho "isso" o que tens entre pernas é tudo teu ou são "enchumaços"
  • Metia uma 1ª nessa alavanca de mudanças que até fazias pião.


                                                                                                                                                                           Imagem (blog "transparências")



E quando se dá a rejeição ?

  • Mau? Mau o quê? Disse algum disparate ou chupas aqui mesmo.
  • Ó filha com esse atrelado só com a carta de pesados.

Acabaram de ler isto e pensaram em trolhas, no pessoal da construção civil...mas não é bem assim, podes encontrar "poetas" em muitos lugares, já a seguir deixo-vos um exemplo.

Noticia do Jornal de Noticias Polícia Marítima a mandar piropos


Depois disto tudo não lhes podemos chamar de poetas, mas concerteza que no futuro vai ser alvo de estudo sobre comportamentos do nosso Século. Faz parte da nossa cultura...existe, não podemos negar.


Aqui podes ler um texto de Luís Coelho sobre Poesia de Andaime, está muito bom.


Fontes: Web

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Feira Medieval em Alvalade

Quem não gostaria de viajar no tempo? Não sei se isso será já possível, mas se for, o segredo deve estar muito bem guardado...ou talvez até podemos, não físicamente mas espirituamente, mas vamos deixar esse tema de lado e sim vamos até Alvalade a uma feira medieval.
Este ano Alvalade, freguesia do concelho de Santiago do Cacém, comemora os 500 anos do Foral Manuelino.

Não vamos propriamente viajar para o passado, mas aqui podemos assistir a uma recriação da vida do homem na idade média. Realizaram-se vários eventos, desde danças medievais a teatro e música. Tinhamos ao nosso dispor uma grande variedade de artigos à venda e poderiamos assistir a confecção de alguns deles.
Tenho que vos confessar uma coisa a cerveja  artesanal é muito boa.












Abertura do Mercado Medieval 2010



Feiras e Mercados Medievais uma boa aula de História.


Conquistada aos Mouros em 1148, foi doada por D. Dinis à rainha Santa Isabel, Óbidos tem muito para oferecer, monumentos, museus, galerias, assim como vários eventos ao longo do ano a todos aqueles que a queiram visitar.
Um desses eventos é o Mercado Medieval, dentro das muralhas do castelo, uma recriação bastante cuidada dos costumes da época.
Os visitantes podem ir vestidos a rigor e participar das ceias medievais.
As ceias proporcionam experiências únicas, recriando o ambiente de um repasto.
Neste mercado há toda uma variedade de espectáculos que nos são apresentados ao longo dos dias, tais como , torneios a cavalo, cortejos, grupos de dança e teatro.
Realizado no passado mês de Julho, um evento a não perder no próximo ano.



Fontes:Web( obidos.pt)

Mercado Medieval Óbidos 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Corvo

   





  Edgar Allan Poe


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, 
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
                                                                                                                            
                                                                                                                                                                  
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,                                                                                   
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!


Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo:
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais."


E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, de certo me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.


A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais,
Isto só e nada mais.



Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
Meu coração se distraia pesquisando estes sinais.
É o vento, e nada mais."


Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um Corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.


E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".


Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".


Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento,
Perdido murmurei lento. "Amigos, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais."
Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,


"Por certo", disse eu, "são estas suas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entorno da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".


Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".


Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!


Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o Corvo, "nunca mais".


"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta! -
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, e esta noite e este segredo
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!"
Disse o Corvo, "Nunca mais".



"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta! -
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida,
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o Corvo, "Nunca mais".


"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o Corvo, "Nunca mais".


E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda,
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais.
E a minh'alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!




Tradução Fernando Pessoa (1924)

Podes encontrar o Poema Original aqui







Fonte:Web ( http://www.helderdarocha.com)




A Minha Opinião

Gostei bastante deste poema e por isso resolvi partilhá-lo convosco. Podemos encontrar dor, amor e até desespero nestas palavras. Um poema carregado de sentimentos.